sábado, 30 de janeiro de 2010

A minha banda de infância.


Quando se é criança a sua banda predileta conta muito para formação da sua imagem. E escolher a certa não era tarefa fácil.

Em 1990, uma época em que se ouviam discos de vinil, eu deixava as músicas do Balão Mágico e da Xuxa, para ouvir sons mais pesados. Não existia MTV em Dom Silvério e minha referência musical, era os primos do meu amigo Lucas, que viviam em Belo Horizonte. Todas as férias, eles levavam novidades para encher os ouvidos de todos os moradores da antiga Rua do Campo. Sim, ouvíamos todos os discos no volume máximo em um velho 3 em 1.

De discos clássicos, de músicas memoráveis e de canções das quais eu não entendia nada, os meus dias iam passando. Engenheiros do Havaí, Legião Urbana, Paralamas do Sucesso tudo isso me fazia perceber que eu já não era mais menino, eu entendia as letras e muitas delas me faziam lembrar meninas que eu gostava ou acontecimentos que eu achava importante. Eu crescia e descobria isso todos os dias pelas músicas.

Foi de presente de natal que, o Lucas recebeu naquele ano, um disco especial. Eu não conhecia a banda, mas a capa do disco me chamou a atenção, Appetite for Destruction, o que seria isso? Peguei emprestado. Afirmo que não gostei muito das primeiras canções quando comecei a ouvir. Achava pesado demais e minha mãe a toda hora mandava abaixar o som. “Que isso meu filho? Isso é música de doido”, dizia ela. Devolvi o vinil para o Lucas e o esqueci.

Em um trabalho de inglês, recebemos a missão de traduzir uma música e cantá-la para toda a sala. Geraldo, até então um amante da boa música internacional, disse que iríamos traduzir Sweet Child o Mine, dos Guns n´Roses. Eu que não entendia nada, aceitei mesmo sem saber do que se tratava. Confesso que, quando eu vi o disco da qual a música pertencia fiquei frustrado. Era aquele disco? O arrependimento tomou conta do meu coração.

Vamos começar? Pergunta o Geraldo com todo o grupo reunido. E com todo cuidado, buscou a faixa correta. Quando a música tocou, juro parecia que havia alguma coisa ali, uma força estranha que me fazia querer ouvir aquela canção a todo instante. Como eu não havia prestado atenção nela? E juntos, buscamos a traduzir a letra. Aquele dia, ouvi Sweet Child o´mine mais de 30 vezes, não só para o trabalho, mas para apreciar. Segui ouvindo todos os dias, comprei outros discos e um dia percebi que Guns n´Roses era a minha banda predileta e me prometi que um dia, eu iria ao Show deles.

Vinte anos se passaram desde que fiz a promessa. Por muito achei que nunca ouviria as músicas que embalaram toda a minha puberdade em um show ao vivo. E o estranho foi que assim como a magia que senti ao traduzir aquela canção para o trabalho de inglês, senti comprando o ingresso esta semana para a apresentação dos Guns n´ Roses aqui em Belo Horizonte. Foi formidável e indescritível.

E mais uma vez, provo a mim mesmo que acreditar em sonhos de infância não é besteira. Mesmo que a espera tenha durado duas décadas.