quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Anderson de Mundica

O Anderson, filho de Mundica foi o cara mais estranho que viveu na Rua do Campo no inicio dos anos 90. Sempre com idéias loucas e sem fundamentos conseguiu seu primeiro destaque entre os amigos, ao tentar sem resultados, uma ordenha numa cadela prenha chamada Sueli.

Minha mãe o taxava de má influência e sempre me dava uns puxões de orelha quando me pegava conversando com ele. Ela ficou assim, após o Anderson pedir emprestado o videocassete lá de casa, para ver um filme secreto da Xuxa que ele havia conseguido. Ele era muito franco em suas palavras e quase ninguém o entendia.

Romântico por natureza gostou de muitas meninas da cidade, mas nunca se declarava. Mas uma em especial o fez perder a cabeça. Com a ajuda de um prego aquecido no fogão de sua casa, marcou o nome SHYRLEY em um dos braços. “Mostro para ela amanhã”, sempre dizia ele.

Amante dos esportes radicais foi ele, o Inventor da brincadeira “Quem pula mais perto do esgoto”. As regras eram simples, consistia apenas em saltar de cima da ponte em um pequeno monte de terra que ficava poucos centímetros de todo o esgoto da rua. Para mostrar como era fácil, ele mesmo deu o primeiro pulo. “É só para macho”, repetia antes do salto. Por culpa da física e de uns quilos a mais, caiu de corpo inteiro no meio das fezes. “Vou tomar um banho de álcool”, foi à única coisa que ele disse ao se levantar.

Aventureiro, o Anderson fugiu de casa milhares de vezes e por diversos motivos. Saia cedo e despedia de todos da rua. Descia com uma trouxa de roupas amarrada em um cabo de vassoura, e ia para a Cooperativa de Dom Silvério pegar carona em um caminhão de leite.  De tarde, já estava ele de volta, dizendo que não poderia deixar a sua mãe para trás.

Falando em mãe, Mundica sofria. E sofreu mais quando o Anderson, aos 16 anos resolveu ir viver no Rio de Janeiro. “Vou ser marinheiro ou DJ, chegando lá eu resolvo.” E foi-se o Anderson buscar seus sonhos. Nunca mais o vi.

E com a amizade do Anderson, percebi que sem coragem não se vai a lugar algum. Que mesmo atolado em um monte merda, existe uma forma de seguir e o mais importante de tudo, que viver neste mundo sem ser um pouco louco, não vale à pena.