sexta-feira, 23 de julho de 2010

Bola de Sebo

Fui criado em um mundo machista e isso eu nunca neguei. Posso afirmar que até hoje sabendo disso, eu tenho atitudes que condizem com o meu aprendizado sobre o que o homem deve ou não deve fazer. Está em mim, foi ensinado assim e tenho dificuldades em mudar.

Em 1993 eu chegava à temível sétima série. Eu teria professores mais exigentes, disciplinas mais aprimoradas e complexas, mas em compensação o meu extinto masculino estava à flor da pele e eu sentia o cheiro feminino a km de distância e isso muitas vezes causava situações embaraçosas para mim.

Tive em meu pai o um grande incentivador com as mulheres. Filho meu tem que ser pegador, era o que ele mais repetia. Eu tentava juro, mas naquela época  eu era muito envergonhado e isso me fazia usar as técnicas erradas.

Mas, eu sempre gostei de aprender. E foi aprendendo com um belo filme no antigo programa Sexta SEXY transmitido as 22:00 no canal Bandeirantes que tive a brilhante idéia de assediar a empregada da minha antiga casa. Não me lembro mais o nome do filme, mas ele foi muito didático e parecia funcionar corretamente. Bem, o que eu posso dizer é que tudo que eu fiz no dia do ataque valeu uma música composta por mim alguns anos após o ocorrido.

Peço desculpas pela minha voz horrível, se possível preste atenção apenas na letra assim fica mais fácil de me ouvir. O nome da música é bola de sebo, composta em 1997

Ps. Foi também em 1997 que eu percebi que não deveria mais cantar em público, ouvindo a canção você entenderá o que eu quero dizer.

terça-feira, 11 de maio de 2010

A figurinha carimbada.

Pode soar estranho, mas para mim, a vida é como um pacote de figurinhas, já que nunca sabemos o que vai sair ao rasgar de um pacote. Às vezes, podemos ter a pouca sorte, e encontrar apenas figurinhas repetidas, outras vezes, podemos estar em um bom dia e achar figurinhas novas, e assim aumentar o álbum. E por fim, obter a grande sorte e encontrar a ultima figurinha, a mais importante de todas. Aquela, que vai mudar a sua vida para sempre, pois completará de uma vez por todas, a sua coleção.

Em 1987, aos meus seis anos de idade, eu passava os meus dias brincando na rua e colecionando as figurinhas de um antigo álbum do Jaspion. A verdade era que eu esperava ansioso a ultima figurinha da página final do álbum, a famosa figurinha carimbada, para enfim receber o maior prêmio possível, a bicicleta BMX marca da fera, um sonho de todo menino daquela época.

Como toda criança, eu tinha a esperança que essa figurinha saísse em um rasgar de pacote. Justamente por isso, toda moeda que eu tinha, era investida em pacotinhos de figurinhas do Jaspion.

A esperança em achar a figurinha carimbada aumentou, quando a sorte resolveu bater a minha porta. 

_ Mãe, eu ganhei uma flauta doce, no álbum de figurinha! Foi o grito de felicidade que dei ao completar com a figurinha chave a imagem do Guiodai nas primeiras páginas. Eu me lembro que eu tremia de felicidade e o coração batia tão forte que parecia sair pela boca.

Eu não parava de pensar no quanto maravilhoso era ganhar um prêmio assim. Uau, uma flauta doce! Pensei nas mil possibilidades de brincadeira com ela. Como era bom achar uma figurinha premiada. Corri para a banca do Pequeno e troquei a figurinha chave pelo meu grande prêmio.

Com o meu novo instrumento musical, aprendi a tocar a música asa branca, o mega hit parabéns para você e outras poucas canções que compunham o pequeno livrinho que vinha no mesmo saquinho da flauta.

Depois do meu primeiro prêmio, outros de menor expressão começaram a aparecer em meus pacotinhos. Consegui achar a figurinha chave de um ioiô, de um despertador azul e uma pequena frigideira antiaderente, mas nada conseguia superar a emoção da flauta e a expectativa de ainda encontrar, a figurinha carimbada.

E tão rápido como eu me enjoei dos meus fabulosos prêmios, a promoção do álbum do Jaspion acabou. Não fiquei sabendo quem foi à pessoa sortuda que saiu com a figurinha carimbada da bicicleta. Talvez, essa figurinha nem existiu. Mas, mesmo assim, prefiro continuar a pensar que algum menino, tão sonhador como eu sempre fui, tenha tido a grande sorte de ter achado a carimbada e que junto a sua nova BMX marca da fera, ele tenha vivido dias maravilhosos, como eu vivi, ao lado da minha antiga flauta doce.



sexta-feira, 30 de abril de 2010

O Bruno


Em 1992 mudou-se para Dom Silvério o Sr Itamar. Junto dele, estava a sua esposa Sônia, um tio, do qual não me lembro o nome e os seus dois filhos, o Bruno e o Bernardo. Todos os cinco reunidos em um velho Chevette vermelho de porta-malas cinza, indo morar diretamente na rua onde eu vivia.

Não era de se negar que, de todas e muitas novidades que traziam, o Bruno era a mais estranha. Ele tinha características anormais para moradores de uma pequena cidade de quatro mil habitantes. Usava camisas descosturadas e sem mangas, falava gírias diferentes, tinha o primeiro máster system da cidade e por fim e mais importante, usava brinco em uma das orelhas.

Não é necessário dizer que ele fez muito sucesso com as meninas da cidade. Mulheres sempre gostam do que é diferente e novo, aprendi isso naquela época. Ficou com todas as meninas da cidade, incluindo até, as que eu gostava secretamente. Mesmo assim, em poucas semanas já éramos amigos. Ele tinha um máster system! (Sim, eu sei, fui um pouco interesseiro.)

Minha mãe sempre zelosa me alertava do mal que era andar junto de um menino, que usava brinco. “Tome cuidado meu filho, ele deve fumar maconha”. Mas, ele não fumava. E minha mãe, em poucos dias, já tinha certeza disso.

Foram precisos apenas poucos meses para formarmos uma grande e animada turma. Possivelmente uma das maiores turmas de amigos que Dom Silvério já teve. Uma turma que ia para o Clube Campestre Saudense todas as sextas-feiras à noite. Que reservava os sábados e domingos para ficar na praça da cidade. Éramos todos nós, nos despedindo da infância. E eu não percebia.

Junto ao Bruno e o Lucas, passei a madrugada inteira na rua, sentado, conversando em um passeio que ficava entre as nossas casas. Ali, tentávamos ver discos voadores. Falávamos sobre as grandes tecnologias que surgiam naquela época, como computadores, videogames, bicicletas com 18 marchas e claro, sobre a evolução das garotas de nossa sala. Como as meninas crescem tão rápido? Ainda não tenho essa resposta.

Mas, em 1994, logo após o Brasil ser campeão da copa dos USA, a família da qual eu gostava tanto  foi embora de nossa cidade. E um dos meus melhores amigos que fiz na vida, ia também. Lembro-me da tristeza que senti e do primeiro dia após sua mudança, quando fiquei sentando no velho passeio entre nossas casas, esperando que o Sr. Itamar, se arrependesse da mudança. Ele não se arrependeu.

Dias depois eu já tinha outros novos e bons amigos, mas aquela grande turma, não existia mais. Com os novos amigos, continuei a crescer e aprender o quanto cada momento na vida é único. Aprendi que amigos vêm e vão e o que fica de fato, são as lembranças, juntamente da chance de encontrá-los e de ter boas noticias, como a que a Carla, esposa do Bruno, está grávida, do seu primeiro filho.

Parabéns ao meu amigo Bruno e a Carla, e espero de coração que esse neném que está para chegar, tenha a sorte de ter muitos bons amigos na vida e que possa ser feliz para todo sempre.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Anderson de Mundica

O Anderson, filho de Mundica foi o cara mais estranho que viveu na Rua do Campo no inicio dos anos 90. Sempre com idéias loucas e sem fundamentos conseguiu seu primeiro destaque entre os amigos, ao tentar sem resultados, uma ordenha numa cadela prenha chamada Sueli.

Minha mãe o taxava de má influência e sempre me dava uns puxões de orelha quando me pegava conversando com ele. Ela ficou assim, após o Anderson pedir emprestado o videocassete lá de casa, para ver um filme secreto da Xuxa que ele havia conseguido. Ele era muito franco em suas palavras e quase ninguém o entendia.

Romântico por natureza gostou de muitas meninas da cidade, mas nunca se declarava. Mas uma em especial o fez perder a cabeça. Com a ajuda de um prego aquecido no fogão de sua casa, marcou o nome SHYRLEY em um dos braços. “Mostro para ela amanhã”, sempre dizia ele.

Amante dos esportes radicais foi ele, o Inventor da brincadeira “Quem pula mais perto do esgoto”. As regras eram simples, consistia apenas em saltar de cima da ponte em um pequeno monte de terra que ficava poucos centímetros de todo o esgoto da rua. Para mostrar como era fácil, ele mesmo deu o primeiro pulo. “É só para macho”, repetia antes do salto. Por culpa da física e de uns quilos a mais, caiu de corpo inteiro no meio das fezes. “Vou tomar um banho de álcool”, foi à única coisa que ele disse ao se levantar.

Aventureiro, o Anderson fugiu de casa milhares de vezes e por diversos motivos. Saia cedo e despedia de todos da rua. Descia com uma trouxa de roupas amarrada em um cabo de vassoura, e ia para a Cooperativa de Dom Silvério pegar carona em um caminhão de leite.  De tarde, já estava ele de volta, dizendo que não poderia deixar a sua mãe para trás.

Falando em mãe, Mundica sofria. E sofreu mais quando o Anderson, aos 16 anos resolveu ir viver no Rio de Janeiro. “Vou ser marinheiro ou DJ, chegando lá eu resolvo.” E foi-se o Anderson buscar seus sonhos. Nunca mais o vi.

E com a amizade do Anderson, percebi que sem coragem não se vai a lugar algum. Que mesmo atolado em um monte merda, existe uma forma de seguir e o mais importante de tudo, que viver neste mundo sem ser um pouco louco, não vale à pena.

sábado, 30 de janeiro de 2010

A minha banda de infância.


Quando se é criança a sua banda predileta conta muito para formação da sua imagem. E escolher a certa não era tarefa fácil.

Em 1990, uma época em que se ouviam discos de vinil, eu deixava as músicas do Balão Mágico e da Xuxa, para ouvir sons mais pesados. Não existia MTV em Dom Silvério e minha referência musical, era os primos do meu amigo Lucas, que viviam em Belo Horizonte. Todas as férias, eles levavam novidades para encher os ouvidos de todos os moradores da antiga Rua do Campo. Sim, ouvíamos todos os discos no volume máximo em um velho 3 em 1.

De discos clássicos, de músicas memoráveis e de canções das quais eu não entendia nada, os meus dias iam passando. Engenheiros do Havaí, Legião Urbana, Paralamas do Sucesso tudo isso me fazia perceber que eu já não era mais menino, eu entendia as letras e muitas delas me faziam lembrar meninas que eu gostava ou acontecimentos que eu achava importante. Eu crescia e descobria isso todos os dias pelas músicas.

Foi de presente de natal que, o Lucas recebeu naquele ano, um disco especial. Eu não conhecia a banda, mas a capa do disco me chamou a atenção, Appetite for Destruction, o que seria isso? Peguei emprestado. Afirmo que não gostei muito das primeiras canções quando comecei a ouvir. Achava pesado demais e minha mãe a toda hora mandava abaixar o som. “Que isso meu filho? Isso é música de doido”, dizia ela. Devolvi o vinil para o Lucas e o esqueci.

Em um trabalho de inglês, recebemos a missão de traduzir uma música e cantá-la para toda a sala. Geraldo, até então um amante da boa música internacional, disse que iríamos traduzir Sweet Child o Mine, dos Guns n´Roses. Eu que não entendia nada, aceitei mesmo sem saber do que se tratava. Confesso que, quando eu vi o disco da qual a música pertencia fiquei frustrado. Era aquele disco? O arrependimento tomou conta do meu coração.

Vamos começar? Pergunta o Geraldo com todo o grupo reunido. E com todo cuidado, buscou a faixa correta. Quando a música tocou, juro parecia que havia alguma coisa ali, uma força estranha que me fazia querer ouvir aquela canção a todo instante. Como eu não havia prestado atenção nela? E juntos, buscamos a traduzir a letra. Aquele dia, ouvi Sweet Child o´mine mais de 30 vezes, não só para o trabalho, mas para apreciar. Segui ouvindo todos os dias, comprei outros discos e um dia percebi que Guns n´Roses era a minha banda predileta e me prometi que um dia, eu iria ao Show deles.

Vinte anos se passaram desde que fiz a promessa. Por muito achei que nunca ouviria as músicas que embalaram toda a minha puberdade em um show ao vivo. E o estranho foi que assim como a magia que senti ao traduzir aquela canção para o trabalho de inglês, senti comprando o ingresso esta semana para a apresentação dos Guns n´ Roses aqui em Belo Horizonte. Foi formidável e indescritível.

E mais uma vez, provo a mim mesmo que acreditar em sonhos de infância não é besteira. Mesmo que a espera tenha durado duas décadas.