sexta-feira, 30 de abril de 2010

O Bruno


Em 1992 mudou-se para Dom Silvério o Sr Itamar. Junto dele, estava a sua esposa Sônia, um tio, do qual não me lembro o nome e os seus dois filhos, o Bruno e o Bernardo. Todos os cinco reunidos em um velho Chevette vermelho de porta-malas cinza, indo morar diretamente na rua onde eu vivia.

Não era de se negar que, de todas e muitas novidades que traziam, o Bruno era a mais estranha. Ele tinha características anormais para moradores de uma pequena cidade de quatro mil habitantes. Usava camisas descosturadas e sem mangas, falava gírias diferentes, tinha o primeiro máster system da cidade e por fim e mais importante, usava brinco em uma das orelhas.

Não é necessário dizer que ele fez muito sucesso com as meninas da cidade. Mulheres sempre gostam do que é diferente e novo, aprendi isso naquela época. Ficou com todas as meninas da cidade, incluindo até, as que eu gostava secretamente. Mesmo assim, em poucas semanas já éramos amigos. Ele tinha um máster system! (Sim, eu sei, fui um pouco interesseiro.)

Minha mãe sempre zelosa me alertava do mal que era andar junto de um menino, que usava brinco. “Tome cuidado meu filho, ele deve fumar maconha”. Mas, ele não fumava. E minha mãe, em poucos dias, já tinha certeza disso.

Foram precisos apenas poucos meses para formarmos uma grande e animada turma. Possivelmente uma das maiores turmas de amigos que Dom Silvério já teve. Uma turma que ia para o Clube Campestre Saudense todas as sextas-feiras à noite. Que reservava os sábados e domingos para ficar na praça da cidade. Éramos todos nós, nos despedindo da infância. E eu não percebia.

Junto ao Bruno e o Lucas, passei a madrugada inteira na rua, sentado, conversando em um passeio que ficava entre as nossas casas. Ali, tentávamos ver discos voadores. Falávamos sobre as grandes tecnologias que surgiam naquela época, como computadores, videogames, bicicletas com 18 marchas e claro, sobre a evolução das garotas de nossa sala. Como as meninas crescem tão rápido? Ainda não tenho essa resposta.

Mas, em 1994, logo após o Brasil ser campeão da copa dos USA, a família da qual eu gostava tanto  foi embora de nossa cidade. E um dos meus melhores amigos que fiz na vida, ia também. Lembro-me da tristeza que senti e do primeiro dia após sua mudança, quando fiquei sentando no velho passeio entre nossas casas, esperando que o Sr. Itamar, se arrependesse da mudança. Ele não se arrependeu.

Dias depois eu já tinha outros novos e bons amigos, mas aquela grande turma, não existia mais. Com os novos amigos, continuei a crescer e aprender o quanto cada momento na vida é único. Aprendi que amigos vêm e vão e o que fica de fato, são as lembranças, juntamente da chance de encontrá-los e de ter boas noticias, como a que a Carla, esposa do Bruno, está grávida, do seu primeiro filho.

Parabéns ao meu amigo Bruno e a Carla, e espero de coração que esse neném que está para chegar, tenha a sorte de ter muitos bons amigos na vida e que possa ser feliz para todo sempre.

4 comentários:

danieljda disse...

Me lembro do Bruno "Brinquinho" era um dos caras mais legais da época e tinha mtas fitas de Master System eo Kiko morria de inveja da popularidade dele kkkk aqueles foram anos dourados parabens Samarone pelo seu trbalho é emocionante esse resgate abraço amigão

B. disse...

AI. Já disse como adoro essas suas histórias? pois então estou dizendo

É como assistir a um episódio de anos incríveis :). Você podia juntar todas elas e fazer um livro!

Lembrei de vir aqui agora pq estava ouvindo o Bozo cantar uma música chamada Vaca Amarela:

"Eu queria pular sobre o tempo, e voltar a ser criança, pra viver no meu mundo encantado, todo cheio de esperança...
Não queria ser mais gente grande, que só causa tristeza e dor! Eu seria feliz novamente, no meu mundo de paz e calor..."

Ouvindo essa música, imediatamente lembrei do amigo Toblerone e de seu blog! Não que você queira a voltar a ser criança, mas porque seu blog retrata que você guarda a sua infancia com muito carinho!!!

Grande beijo!!

Natália Oliveira disse...

Eu me lembro de quando vc escreveu no meu blog pela primeira vez, foi em 2008. Passei por aqui e achei seu blog tão sensacional. Toda vez que passo por aqui, sinto uma nostalgia muito grande, uma saudade desses tempos. É bacana vc escrever sobre a infância aqui, é um jeito de nunca perder a memoria dessa época tão gostosa. Seu blog me lembra um poema do Mario Quintana que diz que quando se vê já são 6 horas, já é sexta, já se passaram 60 anos. Esses dias eu voltei a relê-lo e sabe me inspirou um texto que está em processo. Vou passar por aqui mais vezes e comentar os textos. Só tô deixando esse comentário assim, pq precisava lhe dizer isso. hehe

Lucas disse...

Fiquei sabendo que o filho do Bruno e da Carla, se for homem, vai se chamar Samarone.